sexta-feira, maio 01, 2020

Domesticar a ausência até que se torne saudade



Um céu que traduz a beleza no meio da tempestade. O fluxo de um tempo que parece não ter passado. Lembro-me de estar ali, aliviada, por ser o primeiro dia do último mês de 2019 e, hoje, num vai e vém de memórias, fiz aquela travessia tantas vezes quanto as que pude voltar.
Um céu que jamais voltarei a subestimar.
Se pudesse, voltava.

quarta-feira, abril 29, 2020

Tu m'as promis


Monsieur Periné caiu-me no colo para me fazer sacudir a purpurina, sem perder o registo suave nem o swing da fusão Europa-América Latina, com uma assinatura musical muito característica. 
Ouvi-los, é sentir primavera todos os dias de verão. Ganham vida nos meus próprios ouvidos e, hoje, também no revisitar de memórias de momentos que se balançaram com eles. 
As letras poliglotas trazem muito sem nunca ser demais. São perfeitos para vezes recorrentes em loop sem cansar. São o mais desejado dos beijos roubados. Aquela troca que quer fazer parar o tempo. São voltar atrás, play e repetir.. mais e mais uma vez.

domingo, março 29, 2020

Uns dias somos Summer, outros, Tom!






A minha ausência por aqui é sempre suprida quando os meus dedos formigam para deixar claro que, antes de deixar para trás, é preciso sentir toda a trajetória.

Assim ressurgiu '500 days of summer,' no meio de uma pandemia. Talvez a ordem cronológica não seja essa, mas, como todos os momentos mais intensos, as memórias surgem fragmentadas, misturam-se entre sensações de dor e amor, que adoçam e amargam, que nos dão força tão rápido quanto nos puxam o tapete, que nos fazem sentir um dia Summer e no outro, Tom!

Revi(vi) o filme. Desta vez dei pausa várias vezes para respirar.
Revi(vi) o amor à primeira vista e a necessidade de não idealizar o amor para sempre.
Revi(vi) a aurora da paixão e as frustrações de não ser correspondido.

Senti-me Summer. Senti-me Tom.

Discuti se era uma comédia romântica, refleti se era um final feliz e ainda ponderei que não fosse uma história de amor. Mas revi(vi) a superação (seja na paixão, seja na vida) das relações efémeras e dos sentimentos juvenis. E não há nada que mais se queira em meio a uma pandemia do que superar e amar. De novo e mais uma vez, mesmo sabendo que o erro trágico já foi e voltará ser o erro de muitos de nós.

domingo, novembro 03, 2019

Rock 'n roll sent us insane




No rock há uma linha que separa lenta demais de pesado demais e, depois, há aquelas músicas que estalam debaixo da agulha, maximizam sentimentos, têm rock 'n roll e, ao mesmo tempo fazem-nos sentir "eu gostava de ter escrito isto". 
Goodbye Kiss não tem, aparentemente o power do rock, mas é uma "power ballad", tem uma nuance romântica e triste e, quem conhece Kasabian sabe que têm uns bons riffs. É uma música para ouvir em casa, num concerto, ou em acústico. 
É perigosa, como o rock, por fazer-nos achar que a vida segue em frente, mas, na verdade, às vezes o mundo congela só para nós. Pelo menos é essa a sensação.

quinta-feira, maio 09, 2019

Just Kids

Três coisas que marcaram a minha infância: barbies, desenhar e livros! 
Às barbies nunca lhes dei a utilidade convencional, foram minhas cobaias numa infrutífera carreira de cabeleireira e as minhas grandes companheiras de coreografias com patins imaginários e fatiotas bem ao estilo "homemade". Os desenhos, de uma imaginação extremamente limitada, resignavam-se a bonecas e mais bonecas e, se a imaginação era realmente pouca para explorar outros campos, os detalhes, esses, eram riquíssimos. Bonecas e bonecas, apetrechadas de brincos, blusas com rendas, sem rendas, golas em "V", bainhas godê, colares de pedras estonteantes, penteados elaboradíssimos, mas que, também não me valeram nenhuma carreira no mundo do design. Por fim, os livros! Após um pequeno distanciamento de quase uma década, também eu vítima, ou cúmplice (ainda não sei bem!), desta geração virtual, são eles que se mantiveram como fíeis amigos e companheiros desde os tempos em que ainda nem sabia ler.

Alcançando com sucesso a meta #umlivropormês e deixando o meu bolso cada vez mais vazio, mas  a minha vida cada vez mais rica, lá continuo a seguir a empreitada literária que é ainda o único lugar no mundo que não me deixa sentir sozinha.

O último da vez foi o livro "Just Kids" da Patti Smith, ela, na música, uma das minhas ídolas e agora, entre linhas, floresceu um amor estratosférico que eu não sei nem explicar. É, primeiramente, a biografia mais afetiva que eu já li. Garanto que não é nem preciso gostar de rock, para nos envolvermos de forma emocionante na história desta mulher. Impossível não sentir empatia no meio do percurso nada fácil que este astro do Punk percorreu. Impossível não nos apaixonarmos também por Robert, seu grande amigo e amor, com quem trilhou uma história tão bonita quanto vanguardista (estamos na década de 70!!!). As referências artísticas que Patti Smith traz  enriquecem muito a narrativa, deleitando o leitor com histórias, ainda que breves, da autora com Jimi Hendrix, ou simplesmente a relação, mesmo que não profunda, de Patti com Janis Joplin. São tantos astros que pairam sobre a história, que em algum momento conseguimos visualizar-nos no próprio Chelsea Hotel em meio àquela roda artística como se de um deles nos tratássemos.
O intenso expoente artístico dos anos 70 atrai-nos de forma magnética. Os recortes fotográficos a preto & branco ao longo de várias páginas do livro são pura obra de arte para os nossos olhos. E a relação tão torpe quanto perfeitamente sincronizada de Patti e Robert, fez-me querer entrar na bolha quase alucinogénica que eles criaram que me levou a alguma indignação final mesmo que já esperando o desfecho. 
É uma histórica cativante, de uma escrita clara mas literáriamente rica. É uma identificação quase instantânea com aquela mulher que mesmo se sentindo tão desajustada, nos dá a entender desde o início que o seu caminho só poderia estar destinado a toda a luz, muita luz.


"Jesus morreu pelos pecados de alguém, mas não pelos meus."



quarta-feira, abril 22, 2015

Oh Minas Gerais, quem te conhece não te esquece jamais!

Ao fim de um ano a morar num "país tropical" , quando regressei à terrinha, debati-me várias vezes com a seguinte especulação: estás tão branquinha, nem parece que estás a morar no Brasil!!
Pois é, às vezes não parece mesmo! Para mim, praiana por natureza, tornei-me mineira por opção. Também sinto falta do arfar marinho, aproveitar o feriadão na praia, ter onde mergulhar nos 30 graus (quase anuais!), ir à praia porque está sol, porque está frio ou simplesmente porque sim! E realmente, morar num país tropical sem praia é quase como ir a Itália e não comer pizza! 
Primeiro estranha-se, mas depois entranha-se! Já diz o ditado, "oh Minas Gerais, quem te conhece não te esquece jamais", e eu que o diga! 
Falar de Minas é falar da natureza, dos montes e das minas de ouro, é fazer da cachoeira praia e ser recebido pelo povo mais hospitaleiro, é dizer "uai" em menos de uma semana e comer o melhor pão de queijo brasileiro. Morar em Minas, é baum demais, é sentir-se sempre em casa, mesmo longe dela, é trocar o mar pelas montanhas, os festivais de verão pelos rodeios, aprender a gostar de sertanejo e entrar na sofrência mesmo feliz..
Minas é o quarto estado com a maior área territorial do Brasil e o segundo maior em quantidade de habitantes, é um dos estados com  maior património histórico e uma cultura bem peculiar. 
Com cara de interior, Belo Horizonte, sua capital, é a sexta cidade mais populosa do país, e mesmo sem a beleza do litoral, BH, como é conhecida, é uma das cidades mais visitadas do Brasil, conhecida por vários monumentos, museus e parques importantes, como o Museu de Arte da Pampulha, O Mercado Central ou o Circuito Cultural Praça da Liberdade e, claro, pelos seus imeeeeensos bares, não fosse ela a "Capital nacional dos botecos".
Porque Brasil, bamboleio, não é só terra de samba e pandeiro, fica aqui uma amostra do que se pode fazer na capital mineira e um ilustre e fidedigno poema do grande Carlos Drummond de Andrade sobre este Estado tão grande, tão típico e tão acolhedor.



Ser Mineiro
Ser Mineiro é não dizer o que faz, nem o vai fazer,

é fingir que não sabe aquilo que sabe,

é falar pouco e escutar muito,

é passar por bobo e ser inteligente,

é vender queijos e possuir bancos.

Um bom Mineiro não laça boi com imbira,

não dá rasteira no vento,

não pisa no escuro,

não anda no molhado,

não estica conversa com estranho,

só acredita na fumaça quando vê o fogo,

só arrisca quando tem certeza,

não troca um pássaro na mão por dois voando.
Ser Mineiro é dizer "uai", é ser diferente,

é ter marca registrada,

é ter história.

Ser Mineiro é ter simplicidade e pureza,

humildade e modéstia,

coragem e bravura,

fidalguia e elegância.

Ser Mineiro é ver o nascer do Sol

e o brilhar da Lua,

é ouvir o canto dos pássaros

e o mugir do gado,

é sentir o despertar do tempo

e o amanhecer da vida.

Ser Mineiro é ser religioso e conservador,

é cultivar as letras e artes,

é ser poeta e literato,

é gostar de política e amar a liberdade,

é viver nas montanhas,

é ter vida interior,

é ser gente.

domingo, março 29, 2015

Mary Poppins em Paris!

Depois de uma looonnngaaa, mas não esquecida, ausência e depois de tantos "pula pra cá", "muda pra lá", dos últimos anos, decidi retomar os rabiscanços do blog.
Às tantas páginas de um dia enfadonho pensei, porque não voltar a escrever e sobre uma das coisas que mais gosto de fazer?! Já que passo tanto tempo a ler sobre viagens e a sonhar com elas, porque não dar as minhas sugestões e partilhar os meus planos (dicas, aceitam-se)?!

Recentemente revisitei duas das minhas cidades de eleição, Londres e Paris. Foi assim uma viagem vapt vupt, três dias (e meio) e o bom de cidades assim é que nunca falta o que fazer e de cada vez que se revisita há sempre um novo olhar sobre as coisas.


Paris... uns chamam-lhe a Cidade do amor, outros a Cidade luz, a verdade é que Paris, seja com a luz forte do sol num dia quente de verão, ou com as luzinhas natalícias que atravessam os Campos Elísios ou as que iluminam a famosa Torre Eiffel, é sempre e tão somente - Paris!


É certo que nem um ano na capital francesa chega para desvendar cada singularidade da cidade, mas a receita para desfrutar de um pézinho em Paris é universal: caminhar! Se tiverem a oportunidade de viajar no verão ou apanhar um dia ensolarado, mesmo no inverno, usem aquele calçado mais confortável e caminhem o tanto que puderem, desfrutando dos cenários "cartão-postal" que a cidade tem para oferecer (e não são poucos!). De qualquer forma, a cidade é tão maravilhosa que nem o frio enregelado do inverno ou a chuva que frequentemente abençoa a cidade, impedem de aproveitar os seus encantos.
Para começar, Paris dispõe de uma rede de transportes públicos muito boa e de fácil acesso, podendo sempre ir direto ao seu destino de forma mais rápida e eficiente. Eu, particularmente, sempre que não posso andar a pé, opto pelo metro (metro paris).
Normalmente não levo roteiros muito planeados, tenho sempre alguma noção do que quero fazer, mas fico sempre muito livre para alterar as minhas rotas, claro que com três dias e meio fica difícil, então comecei a traçar o roteiro em função do lugar onde me hospedei. Fiquei no Libertel Gare de l'est que, desde já, recomendo, pelo quarto, o atendimento e a localização principalmente para quem chega de comboio na estação Gare du Nord (cinco minutos a pé da estação Gare de l'est que é em frente ao hotel).

Então vamos ao que interessa.

Dia 1- Arco do Triunfo, Campos Elisíos, Jardim das Tulherias
Como cheguei depois do almoço, enquanto encontrei o hotel, tratei das coisas e fui laurear a pevide, já não me restava muito do dia (principalmente porque no Inverno anoitece muito cedo). Fui de metro até a estação do Arco do triunfo (Charles de Gaulle-Étoile) e a partir daí foi dar corda aos sapatos, descendo os Campos Elísios (para quem gosta e pode fazer compras de luxo, o longo percurso passa num piscar de olhos). Dos Campos Elísios, ainda caminhando, chegamos à Place de la Concorde onde o rei D.Luís e a sua mulher Marie Antoinette foram guilhotinados e onde se encontra, também, o Obelisco oferecido à França vindo do Egito. De lá seguimos pelo Jardim das Tulherias, porém, como já estava noite e extremamente frio, pouco desfrutamos do jardim que é o lugar ideal para se visitar na Primavera/Verão.


Dia 2- Torre Eiffel, Louvre, Notre-Dame

No segundo dia, por causa do (mau) tempo, optamos mais pelos transportes público. Seguimes da Gare de l'est para estação Trocadero de onde temos uma das vistas mais bonitas da Torre Eiffel e onde conseguimos das melhores fotos. De lá seguimos, obviamente para ver a Torre de pertinho, infelizmente não subimos por causa do tempo e de lá caminhamos pelos Champs de Mars onde sentamos um pouco para contemplar a vista da Torre (reforço que se tiverem oportunidade de ir na Primavera/Verão podem desfrutar dos jardins, que no Inverno se encontram vedados) e pouco depois apanhamos o metro (não me recordo da estação, mas era bem perto dos Champs de Mars) em direção ao Louvre (descemos na estação Palais-Royal–Musée du Louvre. Lá pode-se ver a famosa Monalisa e fazer as típicas brincadeirinhas das fotos segurando a pirâmide do Museu. Depois da visita feita ao museu mais famoso de Paris, a chuva deu uma trégua e fomos caminhando até chegar na Notre Dame. Passeio, diga-se de passagem, delicioso de se fazer, à margem do rio Sena,passando pela conhecida ponte dos cadeados (Pont des Arts) e pela Pont Neuf, seguindo pelo Quartier Latin e St-Germain-des-Prés e, mesmo antes de chegar à Igreja que ficou conhecida pelo célebre Corcunda de Notre Dame, ainda passamos pela Ille de la Cité. Como já tinha subido a torre da Igreja onde se pode ver de perto a Galerie des Chimières e o tempo continuava murchinho, decidimos ficar em baixo só a contemplar as gárgulas e toda aquela paisagem banhada pelo Sena, tão parisiense. 11 anos depois, voltei a uma deliciosa creperia do lado da Catedral, se tiverem essa oportunidade, é um dos melhores crepes que já comi em toda a minha vida. à noite voltamos ao bairro de Saint Germain (perto da Notre Dame), cheio de restaurantes, barzinhos e muita vida noturna.


Dia 3- Sacré Coeur, Moulin Rouge, Galerias Lafayette, Ópera, Torre Eiffel (by night)
O terceiro e penúltimo dia apanhou-nos (e ao mundo!) de surpresa. A 7 de janeiro de 2015, Paris acordou mais triste. Saímos em direção ao Sacré Coeur (estação de Pigalle) e encaramos aquela imensidão de escadas até entrar, na minha opinião, numa das Basílicas mais bonitas do mundo. De lá fomos em direção à Place du Têtre, conhecida por ser a praça dos artistas e pintores parisienses, que fica mesmo atrás da Basílica (não sejam tão "espertos" quanto eu fui em descer as escadas todas à procura da Praça, tendo que encarar a maratona da escadaria toda outra vez! #vergonhadodia). Daí fomos descendo pelos becos e ruelas daquela região (Montmartre) até chegar no, nada bonito, Moulin Rouge. Para quem vai a primeira vez é, com certeza, uma das grandes desilusões de Paris , principalmente durante o dia, que nem iluminado se encontra.
Daí apanhamos o metro para as Galerias La Fayette (ideal para quem for com o intuito de comprar) e foi onde nos demos conta de uma Paris triste, assustada e indignada com o atentado ao jornal Charlie-Hebdo. Obviamente que fomos afetados coma  a notícia, um pouco sem saber se nos recolhíamos no hotel ou se continuávamos a jornada, acabamos por seguir em direção à Opera (um dos edifícios mais bonitos da cidade), perto das Galeria e de lá voltamos para o Hotel.
À noite voltamos à Torre Eiffel onde realizei um sonho de consumo de ver a torre iluminada, uma verdadeira obra de arte!





Dia 4- Praça da Républica et aurevoir, Paris!
No quarto, também considerado terceiro e meio, dia, não conseguimos ficar indiferentes ao que se passava. Paris não é apenas a cidade do amor, é muito mais do que um cartão postal, é o berço da liberdade, igualdade e fraternidade! Despedimos-nos de Paris sem palavras, mais do que a obrigação, sentimos a necessidade de nos juntarmos a todos aqueles parisienses, franceses, pessoas, como nós, do mundo inteiro, na Praça da Republica e lá nos despedimos da cidade Luz, que mesmo em luto me proporcionou dias tão felizes, a mim e ao mundo que todos os dias recebe, acolhe e encanta! #jesuischarlie


Bom, é corrido, Paris tem mais e muito mais para visitar, que não quer aproveitar os Jardins do Luxemburgo ou visitar o Palácio de Versailles?! Mas para três dias (e meio!) dá pra sair de lá com a sensação de missão cumprida e Paris, para sempre, no coração!

À bientôt :)