quinta-feira, maio 09, 2019

Just Kids

Três coisas que marcaram a minha infância: barbies, desenhar e livros! 
Às barbies nunca lhes dei a utilidade convencional, foram minhas cobaias numa infrutífera carreira de cabeleireira e as minhas grandes companheiras de coreografias com patins imaginários e fatiotas bem ao estilo "homemade". Os desenhos, de uma imaginação extremamente limitada, resignavam-se a bonecas e mais bonecas e, se a imaginação era realmente pouca para explorar outros campos, os detalhes, esses, eram riquíssimos. Bonecas e bonecas, apetrechadas de brincos, blusas com rendas, sem rendas, golas em "V", bainhas godê, colares de pedras estonteantes, penteados elaboradíssimos, mas que, também não me valeram nenhuma carreira no mundo do design. Por fim, os livros! Após um pequeno distanciamento de quase uma década, também eu vítima, ou cúmplice (ainda não sei bem!), desta geração virtual, são eles que se mantiveram como fíeis amigos e companheiros desde os tempos em que ainda nem sabia ler.

Alcançando com sucesso a meta #umlivropormês e deixando o meu bolso cada vez mais vazio, mas  a minha vida cada vez mais rica, lá continuo a seguir a empreitada literária que é ainda o único lugar no mundo que não me deixa sentir sozinha.

O último da vez foi o livro "Just Kids" da Patti Smith, ela, na música, uma das minhas ídolas e agora, entre linhas, floresceu um amor estratosférico que eu não sei nem explicar. É, primeiramente, a biografia mais afetiva que eu já li. Garanto que não é nem preciso gostar de rock, para nos envolvermos de forma emocionante na história desta mulher. Impossível não sentir empatia no meio do percurso nada fácil que este astro do Punk percorreu. Impossível não nos apaixonarmos também por Robert, seu grande amigo e amor, com quem trilhou uma história tão bonita quanto vanguardista (estamos na década de 70!!!). As referências artísticas que Patti Smith traz  enriquecem muito a narrativa, deleitando o leitor com histórias, ainda que breves, da autora com Jimi Hendrix, ou simplesmente a relação, mesmo que não profunda, de Patti com Janis Joplin. São tantos astros que pairam sobre a história, que em algum momento conseguimos visualizar-nos no próprio Chelsea Hotel em meio àquela roda artística como se de um deles nos tratássemos.
O intenso expoente artístico dos anos 70 atrai-nos de forma magnética. Os recortes fotográficos a preto & branco ao longo de várias páginas do livro são pura obra de arte para os nossos olhos. E a relação tão torpe quanto perfeitamente sincronizada de Patti e Robert, fez-me querer entrar na bolha quase alucinogénica que eles criaram que me levou a alguma indignação final mesmo que já esperando o desfecho. 
É uma histórica cativante, de uma escrita clara mas literáriamente rica. É uma identificação quase instantânea com aquela mulher que mesmo se sentindo tão desajustada, nos dá a entender desde o início que o seu caminho só poderia estar destinado a toda a luz, muita luz.


"Jesus morreu pelos pecados de alguém, mas não pelos meus."