sábado, maio 29, 2010

Yeah, I'm dancing in the moonlight


Uns excelentes quase quatro minutos com sabor a liceu e às travessuras próprias de quando aos 16 anos o mundo sabe a top
Descem lá de Terras de Sua Magestade e com eles descem em mim todos os sonhos do mundo, como se tivesse 16 outra vez.
Trouxeram-me recordações sem ruído, literalmente música para os meus ouvidos, mãos dadas, passeios pelos intervalos e ruas bonitas. 
Não constam do meu Best Of enquanto banda, mas tem me apetecido ouvi-los. Penso na música e dou-me conta que talvez ela conforte as minhas flores, como me conforta a mim ao longo dos ditos intervalos salvadores dos meus dias que, por esta altura do ano, se tornam tão tristes!
E, como diz o velho, supra, hit, "We get it on most every night when that moon is big and bright (...) we like our fun and we never fight" and I'm dancing in the moonlight :)

terça-feira, maio 25, 2010

(Shampoo, gel de banho e muita espuma!)


Não é a melhor música de sempre nem é de arrebatar o coração. É o que se quer, harmoniosa, tranquila, inspiradora q.b. Mas este matrimónio de Scarlett Johansson com Pete Yorn não podia ter sido mais bem concebido senão com este clip - enternecedor! Definitivamente é esta a sensação de ver a minha vida conduzida por um videoclip, numa viagem de mim para mim, e, ainda estarrecida, desmultiplicada e feliz, vou adormecer em paz que amanhã é amanhã. E amanhã vai ser bom!

domingo, maio 23, 2010

Weekend in Paris


Devia ser isto que um certo slogan, há uns anos atrás, queria dizer, "venha para fora cá dentro". Assim foi, um fim-de-semana bem lounge, ritmado pela sensualidade agri-doce que inevitávelmente nos reporta a terras do Sr. Sarcozy. Com os Champs Elysées espelhados no tecto do meu quarto, ao fundo, na mesinha de cabeceira, o D.Perignon deu lugar a um cheirinho a lavanda espalhado pela casa, seguindo-se um banho de espuma com a perna cruzada sem pressa e no cair da noite um livro de bolso com vista para o Sena.
Trocando por miúdos, estrelinhas no tecto para adormecer, uma garrafa de água na cómoda, um cheirinho a Verão disfarçado em banhos de água fria que aumentassem a concentração e muitos livros e leis com vista para uma longa época de exames que se avizinha.
Resumindo, este álbum salvou o meu fim-de-semana!

Lip Dub - Faculdade de Direito da Universidade do Porto


(One big like on this!)

sexta-feira, maio 21, 2010

Original dance


"Mescla o drama, a paixão, a sexualidade, a agressividade, é sempre e totalmente triste. Como dança é "duro", masculino, sem meneios femininos, a mulher é sempre submissa. Nas letras é quase sempre o homem quem sofre por amor, mas a culpa é sempre da mulher. O ritmo é sincopado, tem um compasso binário. A síncope é de uma nota tocada no tempo fraco que se prolonga até um tempo forte, o que movimenta a música e desloca acentuação do ritmo", tudo isto é tango!

segunda-feira, maio 17, 2010

Dia mundial da luta contra a homofobia

Para uma sociedade que já teve a homossexualidade como doença, pecado ou crime, hoje, dia 17 Maio de 2010 é um dia histórico para nós lusitanos. Depois do Tribunal Constitucional ter dado luz verde, finalmente o Sr. Presidente da República Cavaco Silva, ainda que não se coibindo de manifestar o seu desagrado, promulgou o diploma que legaliza o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Quanto ao seu discurso não vou tecer particulares comentários, mas foi com agrado que vi o veto ir embora espelhando-se nesta decisão um país em crescimento, abrindo caminhos para uma sociedade mais tolerante, menos obscura, com princípios que permitem a aceitação, o respeito e a cidadania. Que este dia sirva como um dia de reflexão para todos os que ainda coadunam com as nódoas sociais a que uma sociedade como a nossa, em pleno século XXI, ainda tem que assistir. Que não seja só mais uma data no calendário, mas sim um passo gigante na caminhada pela evolução, igualdade e justiça social.

domingo, maio 16, 2010

A implosão da mentira




Fragmento 1

               Mentiram-me.Mentiram-me ontem
               e hoje mentem novamente. Mentem
               de corpo e alma, completamente.
               E mentem de maneira tão pungente
               que acho que mentem sinceramente.

               Mentem, sobretudo, impunemente.
               Não mentem tristes. Alegremente
               mentem. Mentem tão nacionalmente
               que acham que mentindo história afora
               vão enganar a morte eternamente.

               Mentem.Mentem e calam. Mas suas frases
               falam. E desfilam de tal modo nuas
               que mesmo um cego pode ver
               a verdade em trapos pelas ruas.

               Sei que a verdade é difícil
               e para alguns é cara e escura.
               Mas não se chega à verdade
               pela mentira, nem à democracia
               pela ditadura.


Fragmento 2

               Evidentemente a crer
               nos que me mentem
               uma flor nasceu em Hiroshima
               e em Auschwitz havia um circo
               permanente.

               Mentem. Mentem caricatural-
               mente.
               Mentem como a careca
               mente ao pente,
               mentem como a dentadura
               mente ao dente,
               mentem como a carroça
               à besta em frente,
               mentem como a doença
               ao doente,
               mentem claramente
               como o espelho transparente.
               Mentem deslavadamente,
               como nenhuma lavadeira mente
               ao ver a nódoa sobre o linho. Mentem
               com a cara limpa e nas mãos
               o sangue quente. Mentem
               ardentemente como um doente
               em seus instantes de febre.Mentem
               fabulosamente como o caçador que quer passar
               gato por lebre.E nessa trilha de mentiras
               a caça é que caça o caçador
               com a armadilha.
               E assim cada qual
               mente industrialmente,
               mente partidáriamente,
               mente incivilmente,
               mente tropicalmente,
               mente incontinentemente,
               mente hereditáriamente,
               mente, mente, mente.
               E de tanto mentir tão bravamente
               constroem um país
               de mentira
                                       —diáriamente.


Fragmento 3

               Mentem no passado. E no presente
               passam a mentira a limpo. E no futuro
               mentem novamente.
               Mentem fazendo o sol girar
               em torno à terra medievalmente.
               Por isto, desta vez, não é Galileu
               quem mente.
               mas o tribunal que o julga
               heregemente.
               Mentem como se Colombo partindo
                do Ocidente para o Oriente
               pudesse descobrir de mentira
               um continente.

               Mentem desde Cabral, em calmaria,
               viajando pelo avesso, iludindo a corrente
               em curso, transformando a história do país
               num acidente de percurso.


Fragmento 4

               Tanta mentira assim industriada
               me faz partir para o deserto
               penitentemente, ou me exilar
               com Mozart musicalmente em harpas
               e oboés, como um solista vegetal
               que absorve a vida indiferente.

               Penso nos animais que nunca mentem.
               mesmo se têm um caçador à sua frente.
               Penso nos pássaros
               cuja verdade do canto nos toca
               matinalmente.
               Penso nas flores
               cuja verdade das cores escorre no mel
               silvestremente.

               Penso no sol que morre diariamente
               jorrando luz, embora
               tenha a noite pela frente.


Fragmento 5

               Página branca onde escrevo. Único espaço
               de verdade que me resta. Onde transcrevo
               o arroubo, a esperança, e onde tarde
               ou cedo deposito meu espanto e medo.
               Para tanta mentira só mesmo um poema
               explosivo-conotativo
               onde o advérbio e o adjectivo não mentem
               ao substantivo
               e a rima rebenta a frase
               numa explosão da verdade.

               E a mentira repulsiva
               se não explode pra fora
               pra dentro explode implosiva.

Affonso Romano de Sant'Anna