terça-feira, agosto 25, 2009

A Sul da fronteira, a Oeste do sol


Ver o passado, quando engolido pelos anos em que nunca mais nos falamos, é tocarem na campainha ao lado da minha.

Para não deixar escapar o presente. Bato à porta!


"Todos têm terror do silêncio e da solidão e vivem a bombardear-se de telefonemas, mensagens escritas, mails e contactos no Facebook e nas redes socias da Net, onde se oferecem como amigos a quem nunca viram na vida. Em vez do silêncio, falam sem cessar; em vez de se encontrarem, contactam-se, para não perder tempo; em vez de se descobrirem, expõem-se logo por inteiro: fotografias deles e dos filhos, das férias na neve e das festas de amigos em casa, a biografia das suas vidas, com amores antigos e actuais. E todos são bonitos, jovens, divertidos, 'leves', disponíveis, sensíveis e interessantes. E por isso é que vivem esta estranha vida: porque, muito embora julguem poder ter o mundo aos pés, não aguentam nem um dia de solidão. Eis porque já não há ninguém para atravessar o deserto. Ninguém capaz de enfrentar toda aquela solidão.

Eu próprio não creio que lá volte mais. A menos que tu descesses das estrelas e quisesses vir comigo outra vez. Que pudéssemos ambos apagar todo o mal, todos os danos e todos os enganos, todos os anos perdidos que ficaram para trás, desde essa manhã límpida nas águas de Gibraltar. Mas eu sei que não há regresso: eu mesmo to disse."

"No teu deserto", Miguel Sousa Tavares

(Há viagens de onde nunca se regressa, eu mesma to disse!)

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