domingo, dezembro 26, 2010

Ela é todas!

Deixou de interessar-me. Uma única mulher basta: ela é todas! Nem sequer é uma questão de maturidade, é uma questão de não ser parvo. 
Acabando esta crónica regresso ao livro: ali está ele à minha espera fazendo negaças. Não tem sorte nenhuma: vou ganhar. Nem que a pele fique pelo caminho vou ganhar. Mudá-lo-ei dúzias de vezes mas ganho. Só há saída pelo fundo. Eu encontro-a. De onde me virá esta teimosia, esta firmeza? Não sei.Julgo que fui assim desde o início. As partes gelatinosas que tive vão-se tornando de pedra. Cheio de ferro por dentro. 
Acabo de comer a torrada, vou-me embora. Atravesso a rua para o sítio onde trabalho, pego na caneta, espero. Chamo caneta a uma esferográfica vulgar, qualquer que risque me serve.
Terá sido a esferográfica que me riscou a testa com o tempo? Porque não voltas atrás e vês o que ficou escrito nela? Retratos, livros, papéis, eu a começar.

António Lobo Antunes

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